21 November 2018

ANTES SÓ QUE MAL ACOMPANHADA

por anaveetmaya


Hoje eu acordei pensando em quanta merda nós mulheres fazemos em nome do "amor".
No meu tempo nós éramos criadas para o casamento e para ser mãe.
Assim, quando completávamos dezoito anos já batia uma dúvida: - Num tô namorando aínda! Será que vou ficar pra "titia"?E pra não ficar pra titia, muitas casavam com o primeiro que aparecia, sem conhecer nada sobre a vida, nem sobre o amor, nem sobre o sexo ou sobre si mesmas.
Eu cresci ouvindo as histórias contadas a boca pequena sobre as "amantes" dos meus tios.
Eu percebia na entonação de voz das minhas tias que se confidenciavam com minha mãe e minha avó, que o assunto era sério e doloroso.
E também não entendia direito o porquê da minha mãe e minha avó sempre me alertarem para nunca ficar sozinha com certos "homens" bonzinhos que adoravam fazer carinhos nas menininhas.
Eu cresci vendo as mulheres da família e as da vizinhança, casadas com homens que pareciam vikings suados e oleosos, gritavam, bebiam, batiam nelas e elas choravam. Mas elas ficavam em casa cuidando dos filhos.
Aos sábados, reunia-se na casa da minha avó, a irmandade feminina! 
Eram risadas, confidênciais, batom vermelho e os bobs da minha tia, que só podia fumar quando estava no meio da irmandade. Na frente do marido jamais. E ela era a primeira que ia embora. Tinha que chegar em casa antes dele pra fazer sua "saladinha".
Tinha os conselhos da outra tia, a única mulher da irmandade que participava dos campeonatos de carteado onde só os homens podiam participar. Mas ela jogava melhor que todos. Então ela podia jogar porque ganhava dinheiro extra pra casa. 
Ainda lembro de minha avó lavando a roupa de meu avô, pendurando e escovando os ternos lindos que ele usava para sair sempre sozinho, à noite.
E ela ficava sentada em sua poltrona na sala, placidamente fazendo crochê, enquanto ele passeava lindo, leve e solto.
Fiquei sabendo da história de uma tia que nunca mais transou com o marido, porque ele a proibira de ter e dirigir um carro.
Naquele tempo as mulheres "castigavam" o marido, negando-lhe o sexo.
Alguns maridos aceitavam o castigo como um aval para buscar consolo nos braços de outras. Mas isso tudo era um jogo, eu percebia. Minhas tias não sabiam o que era prazer e provavelmente nunca tiveram um orgasmo. E meus tios, todos eles, tinham outras na rua. Era a sociedade que dava o aval. E a mulher não queria transar com o marido. Era chato, era cansativo. Era obrigação. Muitas se confessavam apenas usadas. E não gostavam disso.
Os homens queriam a esposa pra mãe dos seus filhos. O desejo, a paixão, o fetiche, a satisfação era na rua.
E a mulher?
A mulher era mãe.
Cuidava da família.
Cozinhava.
Lavava e passava roupa.
Cuidava das bebedeiras do marido...
E não se ouvia falar em separação.
A palavra desquite não fazia parte do vocabulário da família.
E ninguém suporia que um dia existiria a palavra divórcio.
Naquele tempo a mulher cuidava dos filhos e dos cuidados da casa. O homem trabalhava fora para sustentar a família. 
Não era usual uma mulher se queixar do marido. 
Muitas choravam abafando o choro no travesseiro.
Meu pai era sapateiro e minha mãe sempre trabalhou com ele.
Com esforço ele montou sua fábrica de sapatos artesanais.
Ficou anos estabelecido mas faliu.
Aí minha mãe assumiu as rédeas e virou a provedora e foi trabalhar fora. 
Início dos anos 70.
De lá pra cá, quase cinquenta anos se passaram mas aínda vejo mulheres que vivem como nos anos 60.
Os assuntos do passado, as dores do amor ainda existem e se parecem.
Muitas mulheres ainda não tem orgasmos e são tímidas para procurar ajuda.
Outras ainda preferem a segurança de um casamento sem amor, só pra não ficarem pra titia.
Algumas se submetem a práticas sexuais que não curtem, só pra atenderem seus maridos e se manterem casadas.
Conceitos e preconceitos ainda dominam o mundo. Mas só que hoje, a mulher goza!
Hoje homens e mulheres falam sobre o poliamor. 
A monogamia é uma possibilidade.
A fidelidade é um acordo.
E hoje, há informação para tudo!
Mulher pode trabalhar fora. 
O homem pode ficar em casa com os filhos. Homem pode casar com homem. 
Mulher pode casar com mulher.
Hoje tudo é muito mais explícito neste mundo de meu Deus.
Se você está infeliz, se está vivendo uma relação abusiva, informe-se, busque ajuda. Faça qualquer coisa mas caia fora dessa! Valorize-se. 
Cuide de sua integridade física, mental e espiritual!
O mundo de fato mudou 
A minha avó já dizia: - Antes só que mal acompanhada.
E eu concordo. 
(texto: Antes só que mal acompanhada, por anaveetmaya)

No comments:

Post a Comment