por Ana Veet Maya
E quando caído na rua
Os cachorros se acercarem de ti
Com pena da tua solidão
Lembra daqueles que traiu
Lembra dos que tripudiou e iludiu.
E neste momento
O fogo do inferno
Será bem mais suave para ti...
E as agruras do deserto
Serão delícias pra tua alma.
Porque mil vezes a ira
De cem tornados e vinte tufões
Que o desprezo e a frieza de mármore
De um coração ferido a punhal.
Volte assim para a sombra!
Ó lastimável ser pestilento.
Que a sujeira e a podridão
Sejam então tuas companheiras.
E que as estrelas que iluminam
O semblante de cada homem digno
Nunca mais brilhem pra ti.
Porque roubastes a calma
E feristes a alma.
Deixastes sangrando
um coração de mulher.
por Ana Veet Maya
Chacoalhas com a luz
Enquanto raios tropeçam
Em tua testa quente.
Sofres, criança.
Já nem sabes quem és.
Acorda pois
E vem tomar café
E sentir o gosto
Da madrugada
Que canta.
por Ana Veet Maya
Jardim das delícias
Parque dos prazeres
Tua pele ficou na minha alma
Tua língua me trouxe a calma
E enlouqueci outra vez.
Você me libertou!
Você me deu sua mão
Você me deu alegria
Você se deu, coração!
E a ti eu me entreguei
No silêncio, só sentidos.
Poder chorar, saber rir.
Um encanto e um gemido...
Continuemos então nossa saga
Sua bênção, ó luz, ser alado.
Que nos guiem boas fadas
E nos salvem do pecado!
por Ana Veet Maya
Esqueci do tempo
em que contava histórias
e que corria descalça
perseguindo meus sonhos
Só queria bater “pique”.
Esqueci das vozes
e dos conselhos
esqueci meus medos
e esqueci teus pelos.
Eu esqueci de nós...
Então, abri a porta
e saudei o céu
pisei na terra
e gritei feroz:
bom dia, liberdade !
por Ana Veet Maya
Meu cheiro
Ainda é buriti
Meu corpo
Ainda treme
Minha cabeça
Ainda gira
E meu ritmo
É flamenco
É jondo
O ritmo da dança que nos arrebatou.
Serena te espero,
Sorriso branco
Mente inquieta
Cão arisco
Selvagem amante.
É fatal
Iremos queimar
E arder outra vez
Mais que a pimenta
Que você prepara
E puramente dá
Como registro
Desta tua marca
Indelével.
por Ana Veet Maya
Tudo passa.
A nuvem.
O tempo.
A vontade.
O tédio...
Tudo corre para o mar.
A água da fonte.
A água da chuva.
A água do rio.
A água dos meus olhos
E a água do teu ventre.
Tudo corre para o mar.
E é esse o tom que habita em mim
É a minha imensidão
Que ganha mais luz
E fica mais ampla
E ganha mais sentido
Quando encontra o teu sorriso
E este meu peito aberto
Neste corpo porto teu
Só quer ser chão e terra
Pra que você amado rio
Corra livre para o azul
E possa enfim desaguar...
Sigamos pois a viagem
Das almas que só se sabem
E entendem que não se têm
Das águas que nunca param
e que aceitam o movimento.
Certas que correm para o mar...