26 October 2013

ISTO TAMBÉM PASSARÁ

história Sufi
Certo dia, um poderoso Rei, governante de muitos domínios, sentiu-se confuso. Então chamou seus sábios e disse:
"Embora não saiba o motivo, algo me impele a procurar alguma coisa que possa equilibrar meu estado de espírito. Algo que me faça alegre quando eu me sentir infeliz e que ao mesmo tempo, me faça triste quando eu me sentir feliz".
Os sábios, sem entender o que significava aquele pedido, foram pedir conselho a um santo Sufi.
O Sufi, depois de escutar o que os sábios lhe disseram, tirou um anel do dedo e entregou a eles.
"Dêem este anel ao Rei. Existe uma mensagem oculta sob a pedra. Mas digam-lhe que há uma condição que deve ser cumprida. A mensagem não deve ser lida apenas por curiosidade, porque então ela perderá o significado. A mensagem está debaixo da pedra, mas é necessário um momento certo na consciência do Rei para encontrá-la. Não é uma mensagem morta que ele simplesmente vai abrir e ler." Disse o Sufi.
"A condição que tem de ser preenchida é a seguinte: Quando tudo estiver perdido, quando o momento for impossível de ser tolerado, quando a confusão for total, quando a agonia for perfeita, quando ele estiver absolutamente indefeso, e quando nem ele nem a mente dele tiver nada mais para fazer, só então deverá abrir a pedra do anel. A mensagem estará ali". Complementou o Sufi.
O Rei recebeu o anel e seguiu as instruções do Sufi, transmitida através dos sábios.
O Rei tinha muitos inimigos na corte. Certo dia houve uma rebelião e o seu castelo foi tomado por seus inimigos. Não lhe restou alternativa a não ser fugir para salvar sua vida. Seus inimigos não teriam piedade dele. Seria certamente morto, se capturado.
O país estava perdido. O inimigo estava vitorioso. Apareceram muitos momentos em que ele esteve no limiar de tirar a pedra e ler a mensagem, mas achava que ainda não era o fim: "Ainda estou vivo. Mesmo que o reino esteja perdido, posso recuperá-lo. O reino pode ser reconquistado".
Os seus inimigos o perseguiram. Ele podia ouvir os barulhos dos cascos dos cavalos ao tocar nas pedras e chegavam cada vez mais perto. Ele continuou fugindo. Os amigos que seguiam com ele foram ficando pelo caminho. Seu cavalo morreu de cansaço e ele passou a correr a pé. Os pés sangravam, e embora sem poder andar nem mais um passo, ele teve de correr sem parar. Ele tinha fome e o inimigo se aproximava cada vez mais. Ele subiu por um caminho entre as pedras e chegou a um ponto sem saída. A trilha terminou. Não havia mais estrada à frente, apenas um abismo. O inimigo estava cada vez mais perto. Não podia voltar, pois o inimigo estava lá e também não podia saltar. O abismo era grande. Ele poderia morrer na queda. Agora parecia não haver mais possibilidades, mas ele ainda esperava pela condição.
Ele disse: "Ainda estou vivo, talvez o inimigo vá noutra direção. Talvez, se pular neste abismo, eu não morra. A condição ainda não está preenchida".
E então, subitamente, sentiu que o inimigo estava perto demais. Quando ele decidiu saltar, viu que dois leões famintos e feroses chegaram na parte de baixo do abismo e olhavam para ele. Não restava mais tempo. O inimigo estava muito perto e seus últimos momentos simplesmente haviam chegado.
Rapidamente ele tirou o anel, abriu-o e olhou por trás da pedra. Havia uma mensagem que dizia: "ISTO TAMBÉM PASSARÁ".
De súbito, tudo se relaxou! "ISTO TAMBÉM PASSARÁ". Aconteceu naturalmente um grande silêncio. O inimigo foi para outra direção se afastando cada vez mais. Ele então se sentou e descansou.
Depois de dormir por um longo tempo, ele acordou e começou a voltar em direção ao castelo. A medida que retornava ele ia tomando consciência de que seus amigos tinham feito uma contra revolução. Seus inimigos haviam sido derrotados. Chegando ao castelo viu que era novamente o Rei.
Nos dias que se seguiram houve um grande júbilo e grandes celebrações. O povo enlouqueceu, dançou nas ruas, iluminados pelas muitas luzes de várias cores dos fogos de artifício. O Rei estava se sentindo muito exitado e muito feliz. Seu coração batia tão rápido que ele pensava que poderia morrer de tanta felicidade. De repente, se lembrou do anel, abriu-o e olhou. Lá estava a frase: "ISTO TAMBÉM PASSARÁ". E ele relaxou.
História Sufi

A ILUSÃO

por Ana Veet Maya


Nas frestas
A ilusão esconde
Uma verdade
Que meu olhar não vê.
E a vida passa contente
Sorrindo jovialmente
Sabe-se lá por que...

16 October 2013

THE GREAT INVOCATION 1945

Porque o que é bom deve ser compartilhado.
Namastê!

14 October 2013

PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO

por Ana Veet Maya





Sou do tempo das ruas de terra e das tardes perfumadas de crisântemos e copos-de-leite.






Tempo das festinhas de aniversário com tudo feito em casa, paté de sardinha e salsa, bombocados, brigadeiros e cajuzinhos da mamãe.

Tempo de pular carnaval nas festas improvisadas nas casas de vizinhos, com confetes e serpentinas e a "seringa com sangue-de-diabo".

Festas de todos os tipos que envolviam toda a vizinhança, especialmente as Festas de Santo Antonio e São João.

Lembro-me das brincadeiras de roda e de esconde-esconde na rua, currupiu, escravos-de-Jó, pula carniça, manamula, pular corda, queimada, bafo, pião, pedrinhas,jogar eu com as quatro, cantigas e depois, quando mocinha, as festinhas na casa de amigas.

Eu amava o drops Dulcora, beber Grapette, Seven UP, Tubaína... Comer a gelatina Jello, o cigarrinho de chocolate e do dadinho Pan.

Morria de medo mas não deixava de ir no dangle do parquinho. E quando ainda bebê, a louca do Parque Xangai me assustava!

Sou do tempo do Aerowillis, do Karmanguia, do fusquinha e do anel de brucutu; tempo do Tremendão Erasmo Carlos e as melhores canções dele e de Roberto!



Eu usei papel carbono, caneta tinteiro, mata-borrão... Usei esfuminho e amava colar os desenhos do Desenhocop.

Ficava bem louca cheirando o álcool quando imprimia no velho mimeógrafo no Estadual da Penha.

Nunca tive dinheiro pra fazer curso de datilografia, mas aprendi a datilografar com dois dedos...

Sou do tempo do modess e da cinta higiênica, do soutien de bojo, da calça pantalona, do cabelo black power, da blusa de banlon, dos tons rosa-choque e verde-elétrico, da meia arrastão e da lixa de depilação..

Eu ficava encabulada com a dança da vassoura e raramente meus pais me deixavam ir nos bailinhos com luz estroboscópica... Só podia ir quando a festa era na casa da Irani.

Irani, suas irmãs e a Márcia iam sempre aos bailes de formatura, com os vestidos longos mais lindos que a Dona Terezinha fazia.

Amava ver os penteados de minha mãe e minha Tia Irene, super armados e cheios de laquê.





Sou do tempo do China e sua Blue Moon da Penha, dos LP's e da vitrola, tempo do Bread, Johnny Rivers, dos Creedences. Beatles e Rolling Stones... Amava ouvir o Hélio Ribeiro e suas traduções inesquecíveis das melhores músicas que me faziam sonhar.

Eu usei coque e vestido tubinho. Fui ao cinema Penharama assistir Ao Mestre com Carinho e Romeu e Julieta com a Olívia Houssey. Às vezes ia ao Cine Júpiter da Penha ou no Penha-Príncipe também.  










Eu não costumava cabular aulas, mas na hora do lanche amava ficar na quadra de educação física conversando com o Carlos, para depois esperá-lo passar de bicicleta em frente a minha porta...

Pegar o Penha-Lapa sozinha era o máximo da independência! Os amigos iam entrando...A Ivone, o Rafael Filizola com sua franja de Ronnie Von, sempre o maior gato do Estadual e o dono da melhor cortada...

Sou do tempo de fazer desenhos livres com a Dona Gilda do Estadual ou com Dona Odete (88) lá na Biblioteca Hans Christian Andersen do Tatuapé.





Era um luxo raro poder curtir uma banana split... Eu também amava tomar  a vaca preta do Superbom da Rua Tuiutí.

Sou do tempo das balas de goma e dos delicados, para mim os de sabor anis eram os prediletos.

Amava ver no céu os “quadrados” que meu irmão fazia com maestria e íamos empinar com meu pai nos descampados do Tatuapé.

Visitei muito o Papai Noel nas Casas Pirani, tomei lanche no Mappin, refresco nas Lojas Americanas do Centro e chá-mate de máquina que só existia na "cidade"!

Amava a murinhana da minha avó, o bolo de chocolate das Tia Berta e era uma festa almoçar todo domingo na casa do Padrinho Vergílio e da Madrinha Elvira...




Sou do tempo da “baratinha” sem capô do meu pai, dos Dodge do meu tio Pedro, dos carros esportivos do Tio Joel, da gaita do Tio Dico, da risada gostosa da Tia Zilda, do café da tarde da Tia Lucinda, da irreverência do Tio Leonel, da cara cheia de lama do tio Osório, da maionese da minha mãe Dona Flora, dos passeios na Riviera buscando pedrinhas com meu primo Armando ou em Interlagos com meu primo Delfo, enquanto assistiamos a corrida de carros ao vivo, pura emoção!




Eu precisei fazer admissão pra entrar no Estadual da Penha. Só pra ter que estudar pra caramba e aprender com os professores mais severos, que conseguiam extrair o nosso melhor sempre. Meu eterno agradecimento ao Professor Jorge Campello, que me influenciou tanto, que me tornei professora de inglês. Igualmente meu agradecimento a Professora Hebe, com quem comecei a aprender a ser autêntica e livre.

Minha salva de palmas a amiga e professora Eunice Valverde, que já naquele tempo “incluía” a todos os portadores de deficiência auditiva... Assisti-la dando aulas abriu meus olhos, ouvidos, minha mente... Observá-la ensinando, abriu meus caminhos para sempre!











Sou do tempo onde a gente namorava e fazia o maior glamour pra dar o primeiro beijo de língua. Andar de mãos dadas com o Mário Branco ou dançar Je t'aime de rosto colado, era digno de entrar no Primeira Mão daquele tempo... Pirava minha cabeça pura e romântica de menina.














Li muita fotonovela Grande Hotel, fazia a brincadeira do copo na casa da Irani de Paula e ir ao baile de quinze anos da Márcia no Clube Corinthians, foi inesquecível.

Aliás foi no Corinthians que aprendi a nada com meu pai e onde pude ter uma adolescência completamente saudável, nadando, jogando vôlei e boliche com minha turminha. E teve o beijo roubado perto do bondinho... Saudade do João Vicente.


Naquele tempo as famílias parece que eram mais unidas, ninguém ficava levantando tese e explicando o por quê. As coisas eram como tinham que ser, como os pais tinham aprendido com seus pais e que agora ensinavam para os filhos. Os pais e mães falavam muito não, porque tudo era difícil e caro e porque a maior parte das famílias trabalhava muito para ter somente o básico.

Eu tive várias bonecas Emília feitas de couro e artesanalmente pela minha Avó Anna, que guardava os pedaços de couro dos sapatinhos que meu pai fazia.

Meus brinquedos eram poucos e comuns. Assim eu amava poder brincar na porta com os brinquedinhos da Inês Guirelli, quando ela deixava...

Sou do tempo das fogueiras altas, do quentão, da carne-louca e do caqui docinho da árvore que ficava na casa da Tio Pedro e Tia Cema. Eu morria de medo com as histórias de terror da minha prima Leila e sua boneca Amiguinha...

Eu assisti a novela Redenção e lembro da primeira transmissão em cores do filme Bonanza... Eu pensava que minha TV preto e branco, no horário marcado, passaria a transmitir em cores. Fiquei muito decepcionada. E só quando casei com o Sebastião aos 18 anos, pude comprar minha primeira TV em cores!

Lembro que na minha rua ninguém tinha geladeira e nem televisão! Foi a Noêmia a primeira senhora a comprar geladeira.
Quando minha avó Anna comprou sua geladeira, ela deixava minha vizinha guardar sua carne. Era um sinal de muita amizade isso.

Nesta época faltava luz sempre e ficávamos brincando com nossas mãos de fazer sombras de bichos nas paredes!

Era um tempo de muitos casamentos na igreja e namoros no portão.

Tempo de comunidade de jovens JATO da Igreja Nova da Penha e do Padre Zé Maria, tempo de construção de ideais, de trabalhar no Projeto Rondon ao lado das amigas Neusa Justino e Rosemarie Lima...

Que tempo lindo foi este de aprender dobraduras e me tornar uma professorinha.

Sonhar era sempre muito bom e possível, porque todo sonho poderia virar realidade.



Amava os contos de fadas e ds festas de Cosme e Damião da Tia Emília.
Curtia ler os gibis do Walt Disney do Tércio e comer os bolos confeitados da minha Tia Amélia!

Saudade da praia de Santos e das festas de finais de ano inesquecíveis na Tia Hermínia e do Tio Sérgio.

Era o máximo ter de programa de final de semana, dormir na casa da Tia Irene e poder curtir um som na sua vitrola esteriofôncia.

Férias escolares sempre com a Kátia, toalha vermelha da vó Anna no décimo terceiro andar do Edifício Bermudas lá no Gonzaga.


Ainda lembro a emoção de ouvir o primeiro gravador e da gravação pela primeira vez das vozes do Tio Joel e a minha, cantando Toquinho e Vinícius.

O tempo do ontem construiu meu hoje feliz.

Agradeço a cada um dos citados e os não citados, por tudo o que representam em minha vida.

Familiares, amigos, professores, vocês são tudo de bom que há pra se lembrar e fazem
parte do meu pretérito mais-que-perfeito!

Vivas!

2 October 2013

A MINHA ORAÇÃO

por Ana Veet Maya


A minha oração é frequente, mas não tem dia e nem hora marcada.

Olho o céu com tamanho reconhecimento... Valorizar todos nossos dons, a dádiva da vida, a beleza da mãe Terra que nos abriga, é uma oração.

Cada flor que nasce, cada bichinho que acarinho e me acarinha também, agradeço ao Pai. Interagir, compartilhar, é uma forma de oração.

Viver a vida sem medo, enxergando e valorizando no outro todas as belezas, possibilidades e qualidades que gostaria que o outro enxergasse em mim... Agir assim também é uma oração.

Minha oração também vem em forma de sorrisos despretensiosos, de abraços quentinhos, de lágrimas que choro junto... A dor que acalento e massageio pra tentar fazer doer menos...

A minha oração vem na forma de palavras de alerta, palavras que falo ou as que escrevo e que buscam sempre incentivar. 

Minha oração também pode ser em forma de compreensão, de não-julgamento, de aceitação, esperança e fé. 

E você? Como é a sua oração? 

Aqui David Darling ora tocando seu cello! 
Lindo demais!